sábado, 13 de fevereiro de 2010

2º ANO FILO

A VIDA POLÍTICA

Paradoxos da política

Não é raro ouvirmos dizer que o lugar de estudante é na sala de aula e não na rua, fazendo passeatas ou o estudante estuda, não faz política. Mas também ouvimos o contrário, quando alguém diz que os estudantes estão alienados, não se interessam por política. No primeiro caso, considera-se a política uma atividade própria de certas pessoas encarregadas de fazê-la. Já os políticos profissionais, enquanto no segundo caso, considera-se a política um interesse e mesmo uma obrigação de todos. Assim, um primeiro paradoxo da política faz aqui sua aparição: é ela uma atividade específica de alguns profissionais da sociedade ou concerne a todos nós, porque vivemos em sociedade?

Como se observa, usamos a palavra política ora para significar uma atividade específica: o governo, realizada por certo tipo de profissional, o político, ora para significar uma ação coletiva o movimento estudantil nas ruas é de reivindicação de alguma coisa, feita por membros da sociedade e dirigida aos governos ou ao Estado. Afinal, a política é uma profissão entre outras ou é uma ação que todos os indivíduos realizam quando se relacionam com o poder? A política se refere as atividades de governo ou a toda ação social que tenha como alvo ou como interlocutor o governo ou o Estado?

No entanto, podemos usar a palavra política ainda noutro sentido.

De fato, freqüentemente, encontramos expressões como a política universitária, a política da escola, a política do hospital, a política da empresa, a política sindical. Nesse conjunto de expressões, já não encontramos a referência ao governo nem a profissionais da política. A Política universitária e a política da escola referem-se a maneira como uma instituição de ensino (pública ou privada) define sua direção e o modo de participação ou não de professores e estudantes em sua gestão, ao modo como os recursos serão empregados, ao currículo, as formas de avaliação dos alunos e professores, ao tipo de pessoa que será recebida como estudante ou como docente, a carreira dos docentes, aos salários, e, se a instituição for privada, ao custo das mensalidades e matrículas, etc.

Em sentido próximo a esse fala-se de a política do hospital. Já a política da empresa refere-se ao modo de organização e divisão de poderes relativos aos investimentos e aos lucros de uma empresa, a distribuição dos serviços, a divisão do trabalho, as decisões sobre a produção e a distribuição dos produtos, as relações com as outras empresas, etc. A Política do sindicato refere-se a maneira de preencher os cargos de direção sindical, as formas de representação e participação dos sindicalizados na direção do sindicato, aos conteúdos e as formas das reivindicações e lutas dos sindicalizados em face de outros poderes, etc.

Podemos, então, indagar: Afinal, o que é a política? É a atividade de governo? É a administração do que é público? É profissão de alguns especialistas? E ação coletiva referida aos governos? Ou é tudo que se refira a organização e a gestão de uma instituição pública ou privada? No primeiro caso (governo e administração), usamos a política é para nos referirmos a uma atividade que exige formas organizadas de gestão institucional e, no segundo caso (gestão e organização de instituições), usamos a política é para nos referirmos ao fato de que organizar e gerir uma instituição envolve questões de poder. Em resumo: Política diz respeito a tudo quanto envolva relações de poder ou a tudo quanto envolva organização e administração de grupos?

Como veremos posteriormente, o crescimento das atribuições conferidas aos governos, sob a forma do Estado, levou a uma ampliação do campo das atividades políticas, que passaram a abranger questões administrativas e organizacionais, decisões econômicas e serviços sociais. Essa ampliação acabou levando a um uso generalizado da palavra política para referir-se a toda modalidade de direção de grupos sociais que envolva poder, administração e organização.

Podemos, assim, distinguir entre o uso generalizado e vago da palavra política e um outro, mais específico e preciso, que fazemos quando damos a ela trás significados principais inter-relacionados:

1. o significado de governo, entendido como direção e administração do poder público, sob a forma do Estado. O senso comum social tende a identificar governo e Estado, mas governo e Estado são diferentes, pois o primeiro diz respeito a programas e projetos que uma parte da sociedade propõe para o todo que a compõe, enquanto o segundo é formado por um conjunto de instituições permanentes que permitem a ação dos governos.

Ao Estado confere-se autoridade para gerir o fundo público por meio de impostos, taxas e tributos, para promulgar e aplicar as leis que definem os costumes públicos lícitos, os crimes, bem como os direitos e as obrigações dos membros da sociedade. Também se reconhece como autoridade do governo ou do Estado o poder para usar a forma (polícia e exército) contra aqueles que forem considerados inimigos da sociedade (criminosos comuns e criminosos políticos). Confere-se igualmente ao governo ou ao Estado o poder para decretar a guerra e a paz. Exige-se dos membros da sociedade obediência ao governo ou ao Estado, mas reconhece-se o direito de resistência e de desobediência quando a sociedade julga o governo ou mesmo o Estado injusto, ilegal ou ilegítimo.

A política, neste primeiro sentido, refere-se, portanto, é ação dos governantes que detém a autoridade para dirigir a coletividade organizada em Estado, bem como as ações da coletividade em apoio ou contrárias a autoridade governamental e mesmo a forma do Estado;

2. o significado de atividade realizada por especialistas, os administradores, os e profissionais são os políticos, pertencentes a certo tipo de organização sociopolítica: são os partidos, que disputam o direito de governar, ocupando cargos e postos no Estado. Neste segundo sentido, a política aparece como algo distante da sociedade, uma vez que é atividade de especialistas e profissionais que se ocupam exclusivamente com o Estado e o poder. A política é feita por eles e não é por nós, ainda que eles se apresentem como representantes dos nossos direitos;

3. o significado, derivado do segundo sentido, de conduta duvidosa, não muito confiável, um tanto secreta, cheia de interesses particulares dissimulados e freqüentemente contrários aos interesses gerais da sociedade e obtidos por meios ilícitos ou ilegítimos. Este terceiro significado é o mais corrente para o senso comum social e resulta numa visão pejorativa da política. Esta aparece como um poder distante de nós (passa-se no governo ou no Estado), exercido por pessoas diferentes de nós (os administradores e profissionais da política), através de práticas secretas que beneficia quem as exerce e prejudicam o restante da sociedade. Fala-se na política como um mal necessário, que precisamos tolerar e do qual precisamos desconfiar. A desconfiança pode referir-se tanto aos atuais ocupantes dos postos e cargos políticos, quanto a grupos e organizações que lhes fazem oposição e pretendem derrubá-los, seja para ocupar os mesmos postos e cargos, seja para criar um outro Estado, através de uma revolução sócio-econômica e política.

Onde está o paradoxo? Na divergência entre o primeiro e o terceiro sentido da palavra política, pois o primeiro se refere a algo geral, que concerne a sociedade como um todo, definindo leis e costumes, garantindo direitos e obrigações, criando espaço para contestações através da reivindicação, da resistência e da desobediência, enquanto o terceiro sentido afasta a política de nosso alcance, fazendo-a surgir como algo perverso e maléfico para a sociedade. A divergência entre o primeiro e o terceiro é provocada pelo segundo significado, isto é, aquele que reduz a política a ação de especialistas e profissionais.

Essa situação paradoxal da política acaba por fazer-nos aceitar como óbvias e verdadeiras certas atitudes e afirmações que, se examinadas mais a fundo, seriam percebidas como absurdas.

Tomemos um exemplo recente da história da política do País. Em 1993, durante o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do pedido do ex-presidente da república, Fernando Collor de Mello, de não-suspensão de seus direitos políticos, ouvimos, em toda a parte, a afirmação de que o Poder Judiciário (do qual o Supremo Tribunal Federal é o órgão mais alto) só teria sua dignidade preservada se o julgamento do pedido não fosse um julgamento político.

Onde está o paradoxo? No fato de que a república brasileira é constituída por três poderes políticos: o executivo, o legislativo, e o judiciário, e, portanto, o Supremo Tribunal Federal, sendo um poder político da República (um poder do Estado), não pode ficar fora da política. Que sentido, portanto, poderia ter a idéia de que o órgão mais alto do Poder Judiciário não deve julgar politicamente? Como desejar que um poder do Estado, portanto, um poder político, aja fora da política?

Mais paradoxal, ainda, foi o modo como os juízes, após o julgamento, avaliaram seu próprio trabalho, dizendo: Foi um julgamento legal e não político. Ora (e nisso reside o paradoxo), a lei não é feita pelo Poder Legislativo? Não é parte da Constituição da República? Não é parte essencial da política? Como, então, separar o legal e o político, se a lei é uma das formas fundamentais da ação política?

Na verdade, quando se insistia em que o julgamento não fosse político e se elogiava o julgamento por ter sido apenas legal, o que estava sendo pressuposto por todos (sociedade e juízes) era a identificação costumeira entre política e interesses particulares escusos, contrários aos da maioria, que por isso deve ser protegida pela lei contra a política. O paradoxo está no fato de que uma forma essencial da política é a lei que aparece como proteção contra a própria política.

Uma outra afirmação que aceitamos tranqüilamente é aquele que acusa e critica uma greve, declarando que se trata de greve política. O curioso que usemos, sem problema, a expressão a política sindical e, ao mesmo tempo, a condenemos, criticando uma greve sob a alegação de ser a política.

Em certos casos, é compreensível o paradoxo. Quando, por exemplo, se trata de trabalhadores de uma fábrica de automóveis que, em nome de melhores salários, entram em greve contra a direção da empresa, compreende-se que a greve seja considerada simplesmente econômica. Ao criticá-la como greve política está, como sempre, querendo dizer que os grevistas, sob a aparência de uma reivindicação salarial, estariam defendendo interesses particulares escusos e ilegítimos, ou buscando, dissimuladamente, vantagens e poderes para alguns sindicalistas. A palavra política é, assim, empregada para dar um sentido pejorativo a greve.

Há casos, porém, em que a expressão greve política é, usada como crítica ou acusação, é surpreendente. Suponhamos, por exemplo, que os trabalhadores de um país façam uma greve geral contra o plano econômico do governo. Estão, portanto, recusando uma política econômica e, nesse caso, a greve é e só pode ser política. Por que, então, acusar uma greve por ela ser o que ela é? O motivo é simples: para o senso comum social, dizer de alguma coisa que ela é a política é a de fazer uma acusação. A crítica só em aparência está dirigida contra a greve, pois, realmente, está voltada contra a política, imaginada como algo maléfico.

Essa visão generalizada da política como algo perverso, perigoso, distante de nós (passa-se no Estado), praticado por eles (os políticos profissionais) contra nós, sob o disfarce de agirem por nós, faz com que seja sentida como algo secreto e desconhecido, uma conduta calculista e oportunista, uma forma corrupta e, através da polícia, uma forma repressora usada contra a sociedade. Essa imagem da política como um poder do qual somos vítimas tolerantes, que consentem a violência, é paradoxal pelo menos por dois motivos principais.

Em primeiro lugar, porque a política foi inventada pelos humanos como o modo pelo qual pudessem expressar suas diferenças e conflitos sem transformá-los em guerra total, em uso da forma e extermínio recíproco. Numa palavra, como o modo pelo qual os humanos regulam e ordenam seus interesses conflitantes, seus direitos e obrigações enquanto seres sociais. Como explicar, então, que a política seja percebida como distante, maléfica e violenta?

Em segundo lugar, porque a política foi inventada como o modo pelo qual a sociedade, internamente dividida, discute, delibera e decide em comum para aprovar ou rejeitar as ações que dizem respeito a todos os seus membros. Como explicar, então, que seja percebida como algo que não nos concerne, mas nos prejudica, não nos favorece, mas favorece aos interesses escusos e ilícitos de outros?

Que aconteceu a essa invenção humana para tornar-se, paradoxalmente, um fardo de que gostaríamos de nos livrar?

Cotidianamente, jornais, rádios, televisões mostram, no mundo inteiro, fatos políticos que reforçam a visão pejorativa da política: corrupção, fraudes, crimes impunes praticados por políticos, mentiras provocando guerras para satisfazer aos interesses econômicos dos fabricantes de armamentos, desvios de recursos públicos que deveriam ser usados contra a fome, as doenças, a pobreza, aumento das desigualdades econômicas e sociais, uso das leis com finalidades opostas aos objetivos que tiveram ao serem elaboradas, etc.

Ao lado desses fatos, não passa um dia sem que saibamos o modo desumano, autoritário, violento com que funcionários públicos, cujo salário é pago por nós (através de impostos), tratam a população que busca os serviços públicos. Também contribui para a visão negativa da política a maneira como as leis estão redigidas, tornando-se incompreensíveis para a sociedade e exigindo que sejam interpretadas por especialistas, sem que tenhamos garantia de que as interpretam corretamente, se o fazem em nosso favor ou em favor de privilégios escondidos.

O que é curioso, porém, aumentando nossa percepção da política como algo paradoxal, é o fato de que só podemos opor-nos a tais fatos e lutar contra eles através da própria política, pois mesmo quando se faz uma guerra civil ou se realiza uma revolução, os motivos e objetivos são a política, isto é, mudanças na forma e no conteúdo do poder. Mesmo as utopias de emancipação do gênero humano contra todas as modalidades de servidão, escravidão, autoritarismo, violência e injustiça concebem o término de poderes ilegítimos, mas não o término da própria política.

As pessoas que, desgostosas e decepcionadas, não querem ouvir falar em política, recusam-se a participar de atividades sociais que possam ter finalidade ou cunho político, afastam-se de tudo quanto lembre atividades políticas, mesmo tais pessoas, com seu isolamento e sua recusa, estão fazendo política, pois estão deixando que as coisas fiquem como estão e, portanto, que a política existente continue tal qual é. A apatia social é, pois, uma forma passiva de fazer política.

O vocabulário da política

O historiador helenista Moses Finley, estudando as sociedades grega e romana, concluiu que o que chamamos de política foi inventado pelos gregos e romanos.

Antes de examinarmos o que foi tal invenção, já podemos compreender a origem greco-romana do que chamamos de política pelo simples exame do vocabulário usado em política: democracia, aristocracia, oligarquia, tirania, despotismo, anarquia, monarquia são palavras gregas que designam regimes políticos; república, império, poder, cidade, ditadura, senado, povo, sociedade, pacto, consenso são palavras latinas que designam regimes políticos, agentes políticos, formas de ação política.

A palavra política é grega: ta politika, vinda de polis.

Polis é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikos), isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia (igualdade perante a lei) e a isegoria(o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a Cidade deve ou não deve realizar).

Ta politika são os negócios públicos dirigidos pelos cidadãos: costumes, leis, erário público, organização da defesa e da guerra, administração dos serviços públicos (abertura de ruas, estradas e portos, construção de templos e fortificações, obras de irrigação, etc.) e das atividades econômicas da Cidade (moeda, impostos e tributos, tratados comerciais, etc.).

Civitas é a tradução latina de polis, portanto, a Cidade como ente público e coletivo. Res publica é a tradução latina para ta politika, significando, portanto, os negócios públicos dirigidos pelo populus romanus, isto é, os patrícios ou cidadãos livres e iguais, nascidos no solo de Roma.

Polis e civitas correspondem (imperfeitamente) ao que, no vocabulário político moderno, chamamos de Estado: o conjunto das instituições públicas (leis, erário público, serviços públicos) e sua administração pelos membros da Cidade.

Ta politika e res publica correspondem (imperfeitamente) ao que designamos modernamente por práticas políticas, referindo-se ao modo de participação no poder, aos conflitos e acordos na tomada de decisões e na definição das leis e de sua aplicação, no reconhecimento dos direitos e das obrigações dos membros da comunidade política e as decisões concernentes ao erário ou fundo público.

Dizer que os gregos e romanos inventaram a política não significa dizer que, antes deles, não existiam o poder e a autoridade, mas sim que inventaram o poder e a autoridade políticos propriamente ditos. Para compreendermos o que se pretende dizer com isso, convém examinarmos como era concebido e praticado o poder nas sociedades greco-romanas.

O poder despótico

Nas realezas existentes antes dos gregos, nos territórios que viriam a formar a Grécia as realezas micênicas e cretenses, bem como as que existiam nos territórios que viriam a formar Roma e as realezas etruscas, assim como nos grandes impérios orientais (Pérsia, Egito, Babilônia, Índia, China) já vigorava o poder despótico ou patriarcal.

Em grego, despotes, e, em latim, pater-familias, o patriarca, é o chefe de família [i] cuja vontade absoluta é a lei: Aquilo que apraz ao rei tem força de lei. O poder era exercido por um chefe de família ou de famílias (clã, tribo, aldeia), cuja autoridade era pessoal e arbitrária, decidindo sobre a vida e a morte de todos os membros do grupo, sobre a posse e a distribuição das riquezas, a guerra e a paz, as alianças (em geral sob a forma de casamentos), o proibido e o permitido.

Embora, de fato, a origem desse poder estivesse na propriedade da terra e dos rebanhos, sendo chefe o detentor da riqueza, procurava-se garanti-lo contra revoltas e desobediências afirmando-se uma origem sobrenatural e divina para ele. Aparecendo como designado pelos deuses e desejado por eles, o detentor do poder também era detentor do privilégio de relacionar-se diretamente com o divino ou com o sagrado, concentrando em suas mãos a autoridade religiosa.

Por sua riqueza, autoridade religiosa e posse de armas, o detentor do poder era também chefe militar, concentrando em suas mãos a chefia dos exércitos e a decisão sobre a guerra e a paz. Era comandante.

O chefe era um senhor, enfeixando em suas mãos a propriedade do solo e tudo quanto nele houvesse (portanto, a riqueza do grupo), a autoridade religiosa e militar, sendo, por isso, rei, sacerdote e capitão.

Com o crescimento demográfico (através das alianças pelos casamentos entre famílias régias), a expansão territorial (através das guerras de conquista), a divisão social do trabalho (através da escravização dos vencidos de guerra e das funções domésticas das mulheres) e os acordos militares e navais entre grupos, a autoridade, embora concentrada nas mãos do rei, passa a ser delegada por ele a seus representantes (em geral, membros de sua família e das famílias aliadas).

Surge, assim, uma repartição das funções de direção ou de poder: a casta sacerdotal detém a autoridade religiosa e a casta dos guerreiros, a militar. Senhores das terras, dos escravos, das mulheres, das armas e dos deuses, os grupos detentores da autoridade formavam a classe dominante economicamente e dirigente da comunidade, sob o poder do rei, ao qual prestavam juramento de lealdade e pagavam tributo pelo usufruto das terras pertencentes a ele e por ele cedidas aos demais.

A propriedade da terra e de seus produtos existia sob duas formas principais:

1. como propriedade privada do rei e, portanto, como domínio pessoal do chefe ou patriarca. Esse patrimônio ou propriedade patrimonial era cedido, segundo a vontade arbitrária do rei, aos chefes de clãs e tribos, aos grupos sacerdotais e militares, mediante serviços e/ou tributos. Em geral, esse tipo de propriedade prevalecia naquelas regiões em que o cultivo da terra exigia trabalhos imensos de irrigação e de transporte de água, que um proprietário isolado não poderia realizar, não só por lhe faltarem recursos para isso como também porque teria que atravessar terras de outros proprietários, devendo pagar-lhes tributos ou fazer-lhes guerra. A propriedade, ficando na posse do rei, permitia que este usasse os recursos vindos dos tributos para as grandes obras de irrigação e transporte de águas, ao mesmo tempo em que possuía o poder para atravessar toda e qualquer terra para realizar as obras;

2. como propriedade coletiva das aldeias ou propriedade comunal do chefe da aldeia, que pagava tributos ao rei em troca de proteção, submetendo-se ao poder régio e, portanto, a autoridade religiosa e militar do senhor.

Seja num caso como noutro, o rei era forçado a exercer um controle cerrado sobre as chefias locais e sobre os que usufruíam as terras, pois as rebeliões eram freqüentes e a disputa pelo poder interminável. Tal controle era feito por representantes do rei, quando percorriam as terras registrando a produção e recolhendo tributos, punindo crimes cometidos contra as decisões e decretos régios, sufocando revoltas e impedindo o surgimento de federações e confederações de aldeias.

Com isso, o rei passou a ter uma imensa burocracia e imensos exércitos, custeados pelos chefes locais e suas aldeias. Os funcionários régios precisavam saber ler, escrever e contar. Nas sociedades de que falamos, tais conhecimentos eram privilégio de um grupo, os sacerdotes. Por esse motivo, a ênfase no caráter sagrado ou religioso do poder tendia a aumentar a medida que aumentava o poderio sacerdotal, sustentáculo indispensável do poder régio. Deuses e armas eram os pilares da autoridade.

Assim constituído, o poder possuía as seguintes características:

despótico ou patriarcal: era exercido pelo chefe de família sobre um conjunto de famílias a ele ligadas por laços de dependência econômica e militar, por alianças matrimoniais, numa relação pessoal em que o chefe garantia proteção e os súditos ofereciam lealdade e obediência, jurando cumprir a vontade do primeiro;

total: o detentor da autoridade possuía poder supremo inquestionável para decidir quanto ao permitido e ao proibido (a lei exprime a vontade pessoal do chefe), para estabelecer os vínculos com o sagrado, isto é, com os deuses e antepassados (o chefe detém o poder religioso), para decidir quanto a guerra e a paz (o chefe detém o poder militar). A tomada de decisão cabia exclusivamente ao rei. Este possuía conselheiros (sacerdotes e militares), que o informavam e lhe sugeriam condutas e ações, mas a decisão cabia apenas a ele. O conselho era secreto, os motivos de uma decisão eram secretos, o que se passava entre o rei e seus conselheiros era secreto. Somente a decisão tornava-se pública, sob a forma de um decreto real;

incorporado ou corporificado: o detentor do poder figurava em seu próprio corpo as características do poder, apresentando-se como manifestação da própria comunidade. Sua cabeça encarnava a autoridade que dirige, seu peito encarnava a vontade que ordena, seus membros superiores encarnavam os delegados que o representavam (sacerdotes e militares), seus membros inferiores encarnavam os súditos que o obedeciam. Essa figuração do poder no corpo do próprio rei indicava a existência de uma organização social fortemente hierarquizada, na qual cada indivíduo possuía um lugar fixo e predeterminado, só tendo existência social graças a esse lugar. O corpo do rei permitia não só figurar a hierarquia, mas também a forte centralização da autoridade, concentrada na cabeça e no peito do dirigente;

mágico: por receber a autoridade dos deuses, o detentor do poder possuía força sobrenatural ou mágica. Sua palavra era um comando misterioso que fazia existir aquilo que era dito (o rei dizia: faça-se e as coisas aconteciam simplesmente porque ele as havia dito e desejado); seus gestos e desejos tinham força para matar e curar, sua maldição destruía tudo quanto fosse amaldiçoado por ele, dele dependiam a fertilidade da terra, a vitória ou a derrota na guerra, o início ou o fim de uma peste, fenômenos meteorológicos, cataclismos;

transcendente: por ser de origem divina, o rei era divinizado e acreditava-se em sua imortalidade como condição da preservação da comunidade. Essa divinização o colocava acima e fora da comunidade. Tal separação levava a considerar que o dirigente ocupava um lugar transcendente, graças ao qual via tudo, sabia tudo e podia tudo, tendo o império total sobre a comunidade;

hereditário: era transmitido ao primogênito do rei ou, na falta deste, a um membro da família real. A família reinante constituía uma linhagem e uma dinastia, que só findava ou por falta de herdeiros diretos ou por usurpação do poder por uma outra família, que dava início a uma nova linhagem ou dinastia.

A invenção da política

Quando se afirma que os gregos e romanos inventaram a política, o que se diz e que desfizeram aquelas características da autoridade e do poder. Embora, nos começo, gregos e romanos tivessem conhecido a organização econômico-social de tipo despótico ou patriarcal, um conjunto de medidas foram tomadas pelos primeiros dirigentes, os legisladores, de modo a impedir a concentração dos poderes e da autoridade nas mãos de um rei, senhor da terra, da justiça e das armas, representante da divindade.

A propriedade da terra não se tornou propriedade régia ou patrimônio privado do rei, nem se tornou propriedade comunal ou da aldeia, mas manteve-se como propriedade de famílias independentes, cuja peculiaridade estava em não formarem uma casta fechada sobre si mesma, porém aberta a incorporação de novas famílias e de indivíduos ou neo-proprietários enriquecidos no comércio.

Apesar das diferenças históricas na formação da Grécia e de Roma, há três aspectos comuns a ambas e decisivos para a invenção da política. O primeiro, como assinalamos há pouco, é a forma da propriedade da terra; o segundo, o fenômeno da urbanização; e o terceiro, o modo de divisão territorial das cidades.

Como a propriedade da terra não pertencia a aldeia nem ao rei, mas as famílias independentes, e como as guerras ampliavam o contingente de escravos, formou-se na Grécia e em Roma uma camada pobre de camponeses que migraram para as aldeias, ali se estabeleceram como artesãos e comerciantes, prosperaram, fizeram, das aldeias, cidades, passaram a disputar o direito ao poder com as grandes famílias agrárias. Uma luta de classes perpassa a história grega e romana exigindo solução.

A urbanização significou uma complexa rede de relações econômicas e sociais que colocava em confronto não só proprietários agrários, de um lado, e artesãos e comerciantes, de outro, mas também a massa de assalariados da população urbana, os neo-proprietários, genericamente chamados de os pobres.

A luta de classes incluía, assim, lutas entre os ricos e lutas entre ricos e pobres. Tais lutas eram decorrentes do fato de que todos os indivíduos participavam das guerras externas, tanto para a expansão territorial, quanto para a defesa de sua cidade, formando as milícias dos nativos da cidade. Essa participação militar fazia com que todos se julgassem no direito, de algum modo, de intervir nas decisões econômicas e legais das cidades. A luta das classes pedia uma solução. Essa solução foi a política.

Finalmente, os primeiros chefes políticos ou legisladores introduziram uma divisão territorial das cidades que visava a diminuir o poderio das famílias ricas agrárias, dos artesãos e comerciantes urbanos ricos e a satisfazer a reivindicação dos camponeses pobres e dos artesãos e assalariados urbanos pobres. Em Atenas, por exemplo, a polis foi subdividida em unidades sociopolíticas denominadas demos; em Roma, em tribus.

Quem nascesse num demos ou numa tribus, independentemente de sua situação econômica, tinha assegurado o direito de participar das decisões da cidade. No caso de Atenas, todos os naturais do demos tinham o direito de participar diretamente do poder, donde o regime ser uma democracia. Em Roma, os neo-proprietários ou os pobres formavam a plebe, que tinha o direito de eleger um representante, o tribuno da plebe para defender e garantir os interesses plebeus junto aos interesses e privilégios dos que participavam diretamente do poder, os patrícios, que constituíam o populus romanus. O regime político romano era, assim, uma oligarquia.

Diante do poder despótico, gregos e romanos inventaram o poder político porque:

separaram a autoridade pessoal privada do chefe de família, do senhorio patriarcal e patrimonial e o poder impessoal público, pertencente a coletividade; separaram privado e público e impediram a identificação do poder político com a pessoa do governante. Os postos de governo eram preenchidos por eleições entre os cidadãos, de modo que o poder deixou de ser hereditário;

separaram autoridade militar e poder civil, subordinando a primeira ao segundo. Isso não significa que em certos casos, como em Esparta e Roma, o poder político não fosse também um poder militar, mas sim que as missões militares deviam ser, primeiro, discutidas e aprovadas pela autoridade política e só depois realizadas. Os chefes militares não eram vitalícios nem seus cargos eram hereditários, mas eram eleitos periodicamente pelas assembléias dos cidadãos;

separaram autoridade mágico-religiosa e poder temporal laico, impedindo a divinização dos governantes. Isso não significa que o poder político deixasse de ter laços com a autoridade religiosa e os oráculos, na Grécia, e os augários, em Roma, eram respeitados firmemente pelo poder político. Significa, porém, que os dirigentes desejavam a aprovação e a proteção dos deuses, sem que isso implicasse a divinização dos governantes e a submissão da política e autoridade sacerdotal;

criaram a idéia e a prática da lei como expressão de uma vontade coletiva e pública, definidora dos direitos e deveres para todos os cidadãos, impedindo que fosse confundida com a vontade pessoal de um governante. Ao criarem a lei e o direito, afirmaram a diferença entre o poder político e todos os outros poderes e autoridades existentes na sociedade, pois conferiram a uma instância impessoal e coletiva o direito exclusivo ao uso da forma para punir crimes, reprimir revoltas e matar para vingar, em nome da coletividade, um delito julgado intolerável por ela. Em outras palavras, retiraram dos indivíduos o direito de fazer justiça com as próprias mãos e de vingar por si mesmos uma ofensa ou um crime. O monopólio da forma, da vingança e da violência passou para o Estado, sob a lei e o direito;

criaram instituições públicas para aplicação das leis e garantia dos direitos, isto é, os tribunais e os magistrados;

criaram a instituição do erário público ou do fundo público, isto e, dos bens e recursos que pertencem a sociedade e são por ela administrados por meio de taxas, impostos e tributos, impedindo a concentração da propriedade e da riqueza nas mãos dos dirigentes;

criaram o espaço político ou espaço público, isto ,é a assembléia grega e o senado romano, no qual os que possuem direitos iguais de cidadania discutem suas opiniões, defendem seus interesses, deliberam em conjunto e decidem por meio do voto, podendo, também pelo voto, revogar uma decisão tomada. É esse o coração da invenção política. De fato, como vimos, a marca do poder despótico é o segredo, a deliberação e a decisão a portas fechadas. A política, ao contrário, introduz a prática da publicidade, isto é, a exigência de que a sociedade conheça as deliberações e participe da tomada de decisão.

Além disso, a existência do espaço público de discussão, deliberação e decisão significa que a sociedade esta aberta aos acontecimentos, que as ações não foram fixadas de uma vez por todas por alguma vontade transcendente, que erros de avaliação e de decisão podem ser corrigidos, que uma ação pode gerar problemas novos, não previstos nem imaginados, que exigirão o aparecimento de novas leis e novas instituições. Em outras palavras, gregos e romanos tornaram a política inseparável do tempo e, como vimos no caso da ética, ligada ao modo possível ou de possibilidade, isto é, a idéia de uma criação contínua da realidade social.

Para responder as diferentes formas assumidas pelas lutas de classes, a política é inventada de tal maneira que, a cada solução encontrada, um novo conflito ou uma nova luta podem surgir, exigindo novas soluções. Em lugar de reprimir os conflitos pelo uso da força e da violência das armas, a política aparece como trabalho legítimo dos conflitos, de tal modo que o fracasso nesse trabalho é a causa do uso da força e da violência.

A democracia ateniense e as oligarquias de Esparta e da república romana fundaram a idéia e a prática da política na Cultura ocidental. Eis por que os historiadores gregos, quando a Grécia caiu sob o domínio do império de Alexandre da Macedônia, e os historiadores romanos, quando Roma sucumbiu ao domínio do império dos césares, falaram em corrupção e decadência da política: para eles, o desaparecimento da polis e da res publica significava o retorno ao despotismo e o fim da vida política propriamente dita.

Evidentemente, não devemos cair em anacronismos, supondo que gregos e romanos instituíram uma sociedade e uma política cujos valores e princípios fossem idênticos aos nossos. Em primeiro lugar, a economia era agrária e escravista, de sorte que uma parte da sociedade, escravos, estava excluída dos direitos políticos e da vida política. Em segundo lugar, a sociedade era patriarcal e, conseqüentemente, as mulheres também estavam excluídas da cidadania e da vida pública. A exclusão atingia também os estrangeiros e os miseráveis.

A cidadania era exclusiva dos homens adultos livres nascidos no território da Cidade. Além disso, a diferença de classe social nunca era apagada, mesmo que os pobres tivessem direitos políticos. Assim, para muitos cargos, o pré-requisito da riqueza vigorava e havia mesmo atividades portadoras de prestígio que somente os ricos podiam realizar. Era o caso, por exemplo, da liturgia grega e do evergetismo romano, isto é, de grandes doações em dinheiro a cidade para festas, construção de templos e teatros, patrocínio de jogos esportivos, de trabalhos artísticos, etc.

O que procuramos apontar não foi a criação de uma sociedade sem classes, justa e feliz, mas a invenção da política como solução e resposta que uma sociedade oferece para suas diferenças, seus conflitos e suas contradições, sem escondê-los sob a sacralização do poder e sem fechar-se a temporalidade e as mudanças.

Sociedade contra o Estado

Examinamos até aqui duas grandes respostas sociais ao poder: a resposta despótica e a resposta política, Em ambas a sociedade procura organizar-se economicamente e a forma da propriedade, mantendo e mesmo criando diferenças sociais profundas entre proprietários e neo-proprietários, ricos e pobres, livres e escravos, homens e mulheres. Essas diferenças engendram lutas internas, que podem levar a destruição de todos os membros do grupo social.

Para regular os conflitos, determinar limites as lutas, garantir que os ricos conservem suas riquezas e os pobres aceitem sua pobreza, surge uma chefia que, como vimos, pode tomar duas direções: ou o chefe se torna senhor das terras, armas e deuses e transforma sua vontade em lei, ou o poder é exercido por uma parte da sociedade e os cidadãos, através de práticas e instituições públicas fundadas na lei e no direito como expressão da vontade coletiva. Nos dois casos, surge o Estado como poder separado da sociedade e encarregado de dirigi-la, comandá-la, arbitrar os conflitos e usar a força. Há, porém, um terceiro caminho.

Fomos acostumados pela tradição antropológica européia a considerar as sociedades existentes na América como atrasadas, primitivas e inferiores. Essa visão nasceu do processo de colonização e conquista, iniciado no século XVI. Os conquistadores e colonizadores que aportaram na América interpretaram as diferenças entre eles e os nativos americanos como distinção hierárquica entre superiores e inferiores: para eles os índios não tinham lei, rei, fé, escrita, moeda, comércio, História; eram seres desprovidos dos traços daquilo que, para o europeu cristão, súdito de monarquias, constituiria a civilização.

Sem dúvida, os conquistadores encontraram grandes impérios na América: incas, astecas e maias. Por isso, os destruíram a ferro e fogo, exterminando as gentes, pilhando as riquezas e erigindo igrejas sobre seus templos. Todavia, exceto por esses impérios destruídos, os conquistadores encontraram as demais nações americanas organizadas de maneira incompreensível para os padrões europeus. Transformaram o que eram incapazes de compreender em inferioridade dos americanos. Considerando-os selvagens e bárbaros, justificavam a escravidão, a evangelização e o extermínio.

A visão européia, depois compartilhada pelos brancos americanos, era e a etnocêntrica, isto e, considera padrões, valores e práticas dos brancos adultos proprietários europeus como universais e definidores da Cultura e da civilização. Para o etnocentrismo, portanto, os nativos americanos possuíam e possuem sociedades carentes: falta-lhes o mercado (moeda e comércio), a escrita (alfabética), a História e o Estado. Possuem, portanto, sociedades sem comércio, sem escrita, sem memória e sem Estado.

O antropólogo francês Pierre Clastres estudou essas sociedades por um prisma completamente diferente, longe do etnocentrismo costumeiro. Mostrou que possuem escrita, mas que esta não é alfabética nem ideográfica ou hieroglífica (isto é, não é a escrita conhecida pelos ocidentais e orientais), mas é simbólica, gravada nos corpos das pessoas por sinais específicos, inscrita com sinais específicos em objetos determinados e em espaços determinados. Somos nós que não sabemos lê-la.

Mostrou também que possuem memória e mitos e narrativas dos povos, transmitida oralmente de geração em geração, transformando-se de geração em geração. Mostrou, pelas mudanças na escrita e na memória, que tais sociedades possuem História, mas que esta é inseparável da relação dos povos com a Natureza, diferentemente da nossa História, que narra como nos separamos da Natureza e como a dominamos. Mas, sobretudo, mostrou por que e como tais sociedades são contra o mercado e contra o Estado. Em outras palavras, não são sociedades sem comércio e sem Estado, mas contrárias a eles.

As sociedades indígenas estudadas por Clastres são sul-americanas, encontrando-se num estágio anterior ao das sociedades indígenas da América do Norte e dos três grandes impérios situados no México, na América Central e no norte da América do Sul. São, portanto, sociedades que não se organizaram na forma das chefias norte-americanas nem dos grandes impérios, mas inventaram uma organização deliberada para evitar aquelas duas formas de poder.

As sociedades indígenas são tribais ou comunais. Nelas, não há propriedade privada nem divisão social do trabalho, não havendo, portanto, classes sociais nem luta de classes. A propriedade é tribal ou comum e o trabalho se divide por sexo e idade. São comunidades no sentido pleno do termo, isto é, são internamente homogêneas, unas e indivisas, possuindo uma História e um destino comuns. São sociedades do cara-a-cara, onde todos se conhecem pelo nome e são vistos uns pelos outros diariamente.

Por isso mesmo, nelas o poder não se destaca nem se separa, não forma uma instância acima dela (como na política), nem fora dela (como no despotismo). A chefia não é um poder de mando a que a comunidade obedece. O chefe não manda; a comunidade não obedece. A comunidade decide para si mesma, de acordo com suas tradições e necessidades.

A oposição se estabelece não no interior da comunidade, mas em seu exterior, isto e, nas relações com as outras comunidades, portanto, no que se refere a guerra e as alianças de sangue pelo casamento. A função da chefia é representar a comunidade perante outras comunidades.

O que é e o que faz o chefe, uma vez que não tem a função do poder, pois este pertence a comunidade e dela não se separa? O chefe possui três funções: doar presentes, fazer a paz e falar.

Exprimindo a benevolência dos deuses e a prosperidade da comunidade, o chefe deve, em certos períodos, oferecer presentes a todos os membros da tribo, isto é, devolver a ela o que ela mesma produziu. A doação de presentes é a maneira deliberada que a comunidade inventou para impedir que alguém possa concentrar bens e riquezas, tornar-se proprietário privado, criar desigualdade econômica e social, de onde surgem a luta de classes e a necessidade do poder do Estado.

Quando famílias ou indivíduos entram em conflito, o chefe deve intervir. Não dispõe de códigos legais para arbitrar o conflito em nome da lei. Que faz ele? A paz. Como a obtém? Apelando para o bom senso das partes, aos bons sentimentos, é memória da comunidade, é tradição do bom convívio entre as pessoas. Em suma, através dele a comunidade fala para reafirmar-se como comunidade indivisa.

Excetuando-se a doação de presentes, a paz entre membros da comunidade, a diplomacia para tratar com outras comunidades aliadas e o direito a usar a força, liderando os guerreiros durante a guerra, a grande função da chefia situa-se na fala ou na Grande Palavra. Todas as tardes, o chefe se dirige a um local distante da aldeia, mas visível e de onde possa ser ouvido, e ali discursa. Embora ouvido, ninguém deve dar-lhe atenção e o que ele diz não é ordem ou comando obrigando é obediência. Que diz ele? Diz a palavra do poder: canta sua força e coragem, seu prestígio, sua relação com os deuses, seus grandes feitos. Mas ninguém lhe dá atenção. Ninguém o escuta.

A Grande Palavra tem significado simbólico: a comunidade lembra a si mesma, diariamente, o risco e o perigo que correria se possuísse um chefe que lhe desses ordens e ao qual devesse obedecer. A Grande Palavra simboliza a maneira pela qual a comunidade impede o advento do poder como algo separado dela e que a comandaria pela coerção da lei e das armas. Com a cerimônia da Grande Palavra, a sociedade se coloca contra o surgimento do Estado.

Toda vez que o chefe não realiza as três funções internas e a função externa tais como a comunidade as define, todas as vezes que pretende usar suas funções para criar o poder separado, ele é morto pela comunidade.

Evidentemente, nossa tendência será dizer que tal organização é própria de povos pouco numerosos e de uma vida sócio-econômica muito simples, parecendo-nos, a nós, membros de sociedades complexas e de classes, uma vaga lembrança utópica. Pierre Clastres, porém, indaga: Por que outras comunidades, mundo afora, não foram capazes de impedir o surgimento da propriedade privada, das divisões sociais de castas e classes, das desigualdades que resultaram na necessidade de criar o poder separado, seja como poder despótico, seja como poder político? Por que, afinal, os homens sucumbiram a necessidade de criar o Estado como poder de coerção social?



[i] Na Antiguidade, família não era o que é hoje para nós (pai, mãe e filhos), mas era uma unidade econômica constituída pelos antepassados e descendentes, pai, mãe, filhos, genros, noras, tios e sobrinhos, escravos, animais, terras, edificações, plantações, bens móveis e imóveis, e pessoas e coisas eram propriedades do patriarca (despotes ou pater-familias).

2º ANO SOC

História do pensamento sociológico no Brasil

No Brasil, o processo de formação, organização e sistematização do pensamento sociológico obedeceu as condições de desenvolvimento do capitalismo e à dinâmica própria de inserção do país na ordem capitalista mundial. Refletindo, portanto, a situação colonial, a herança da cultura jesuítica e o lento processo de formação do Estado nacional.

No período colonial, a cultura religiosa foi utilizada como um importante instrumento de colonização, posto que, a Ordem dos Jesuítas com sua filosofia universalista e escolástica durante três séculos exerceu o monopólio sobre a educação, o pensamento culto e a produção artística que no país à época se desenvolveram, introduzindo paralelamente um sistema misto de exploração do trabalho indígena que, combinado com o ensino religioso, agiu de modo a aniquilar gradativamente a cultura nativa, submetendo as populações escravas e distinguindo drasticamente as camadas cultas daquelas que realizavam o trabalho braçal. De forma que se pode afirmar que a cultura do Brasil colonial mantém e ostenta ao longo de sua vigência um caráter ilustrado, de distinção social e dominação.

No século XVIII, ocorre o surgimento e a influência das classes intermediárias, o desenvolvimento da mineração promove importantes transformações sociais, alterando a sociedade colonial que até então dividia-se em: donos de terra e administradores de um lado e escravos de outro. Surgindo ocupações novas: comerciantes, artífices, criadores de animais, funcionários da administração que controlavam a extração de minérios e sua exportação, e outras.

A população livre passa a ser mais numerosa que a escrava. Essa camada intermediária livre e sem propriedades, torna-se consumidora da erudição e cultura européia, tentando distinguir-se tanto do escravo inculto como da elite colonial conservadora, contando para tanto, com o ensino praticado pelas ordens religiosas - caráter progressivo - estabelecidas em Minas Gerais a época.

No campo das artes plásticas, passam a ser notadas manifestações nacionais, por meio de um barroco original e uma música de técnica surpreendente; já no que tange ao campo científico, a produção mostra-se ainda muito pequena, predominando por sua vez, ainda o saber erudito, voltado para os estudos jurídicos.

No que tange ao século XIX, com a transferência da corte joanina para o Brasil em 1808, é introduzida na colônia a cultura portuguesa da época, resultante das influências do humanismo neoclassista francês e da produção cultural da Universidade de Coimbra. São fatos importantes e mencionados pela autora referentes à epoca: a criação da Academia de Belas Artes, a fundação da imprensa, o lançamento do primeiro jornal, a organização da primeira biblioteca nacional e dos primeiros cursos superiores, que em parte rompem com a cultura escolástica e literária anterior.

Neste período também introduziu-se o instrumental prático destinado à formação e viabilização do aparelho administrativo do império, porém, ainda que voltada mais à praticidade, a cultura nacional continuava sendo alienada, ditada pelas formas européias, objetivando organizar o saber descritivo, funcional e ostentatório, bem como, garantir o domínio do poder imperial.

Os movimentos intelectuais e literários até meados do século XIX, apesar de tratarem de questões políticas e sociais, a terra e a nação surgiram apenas como objeto, como tema, nunca como pensamento crítico desenvolvido a partir das condições próprias da nação. Ou seja, a forma, assim como a linguagem, eram estrangeiras, só o motivo era nacional.

Essa dicotomia entre a realidade vivida e o conhecimento produzido e consumido pela elite não só mantinha a prevalência do caráter ostentatório de uma cultura de elite, como caracterizava uma nova forma de alienação, responsável pelo tardio desenvolvimento da ciência no Brasil.

Somente após 1870, sob pressão do que ocorria na Europa, que significativas mudanças irrompem na sociedade brasileira, mudanças essas que fundidas a ciclos econômicos decadentes provocaram a emergência do pensamento crítico que passa a ser apresentado de forma incisiva tanto na criação literária quanto na crítica social.

É de grande importância para o desenvolvimento do pensamento sociológico brasileiro o desenvolvimento do capitalismo no país. O desenvolvimento das atividades comerciais e de exportação do início do século, com a formação da burguesia nacional, revolucionaram o modo de pensar da intelectualidade e da sociedade brasileira como um todo.

Essa revolução decorre da necessidade da nova classe de um saber mais pragmático, menos vinculado a uma estrutura social herdada da colonização. A partir de então, verifica-se uma tentativa de ruptura com a herança cultural do passado: procura-se combater o analfabetismo, homogeneizar os valores e o discurso, criar um sentimento de patriotismo que levasse a mudanças reais na estrutura social, repudiando todo traço de colonialismo, de atraso e importação cultural.

Mas apesar de podermos reconhecer que desde o final do século XIX, já se possa verificar no Brasil uma espécie de pensamento sociológico, desenvolvida por Euclides da Cunha, dentre outros, a sociologia entendida como atividade autônoma voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, só irrompe na década de 30 do século passado, época em que o mundo liberal entrou em crise profunda e as relações econômicas internacionais mostraram suas contradições mais agudas, afinal, é no momento de crise que a crítica se desenvolve, sistematizando-se de maneira científica na sociologia.

2º ANO SOC

Sociologia no Brasil: da década de 30 aos dias atuais

1-GERAÇÃO DE 30

A sociologia, como atividade voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, só aparece na década de 30 com a fundação da Universidade de São Paulo, embora o pensamento sociológico já existia no Brasil desde o final do século XIX, desenvolvido por Euclídes da Cunha em sua obra Os Sertões e nas idéias abolicionistas e republicanas.

Nessa época uma das preocupações em geral dos intelectuais era o interesse da descoberta do Brasil verdadeiro, contradizendo aquela visão etnocêntrica dos europeus. Buscavam também desenvolver e modernizar a estrutura social brasileira.

Os intelectuais desse período ficaram conhecidos como geração de 30, dentre eles podemos destacar:

1.1-Gilberto Freire

Gilberto de Melo Freire nasceu em Recife PE em 1900. Sua obra em geral representou um divisor de águas na evolução cultural do Brasil e contribuiu para que o país encarasse com mais confiança seu papel no mundo moderno.

Indo fazer sua pós-graduação nas universidades norte-americanas de Baylor (Waco, Texas) e Colúmbia (Nova York) onde esteve sob a influencia de Frans Boas. Ao termino do curso apresentou em 1922 a tese: Social live in Brazil in the middle of 19th century (A vida social no Brasil em meados do século XIX), que mais tarde se transformaria em seu famoso livro Casa-Grande & Senzala, publicado em 1932, tendo um impacto tão grande quanto Os Sertões de Euclides da Cunha. Nesta obra, Freire imprime sua visão poderosa e original dos fundamentos da sociedade brasileira, descreve com objetividade a contribuição do negro e o fenômeno da miscigenação na formação social do Brasil.

1.2-Caio Prado Júnior

Procurava formalizar o método marxista para análise da realidade brasileira.

Caio Prado vinha de uma das famílias mais ricas e conceituadas do Brasil naquela época.

Em Evolução política do Brasil (1933) interpretava a situação político-colonial brasileira a parti das relações internacionais capitalistas e seu mecanismo comercial, desde a expansão marítima européia.

Depois de uma viagem a União Soviética, em 1938 ele publica: URSS: um novo mundo, desde então se torna militante de esquerda, assumindo a presidência da Aliança Nacional Libertadora em São Paulo, motivo este de sua prisão e exilo (1935-1939). Ao voltar para o Brasil publicou mais duas obras de grande repercussão nacional: Formação do Brasil Contemporâneo (1942) e Historia econômica do Brasil (1945).

1.3-Plínio Salgado

Destaca-se pelo seu integralismo, como um movimento nacionalista, anticomunista, antiliberal e anti-semita. Via com desconfiança não só o movimento modernizador da sociedade, mas como também o liberalismo e o marxismo.

Depois de uma viagem a Itália em 1930 onde conheceu Mussolini, voltou decidido a fundar um movimento fascista no Brasil. Já em 1932 publica o Manifesto de outubro e participa da fundação da Ação Integralista Brasileira (AIB) que seria o meio de compatibilizar os aspectos dicotômicos da sociedade brasileira, que segundo ele era estreitamente dualista.

1.4-Fernando de Azevedo

Mineiro de São Gonçalo de Sapucaí, em São Paulo participa da fundação da Universidade de São Paulo, que na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras ocupou a cadeira de Sociologia e foi diretor da mesma.

Antes na década de 20 foi responsável pela reforma do ensino no país a parti de experiências feitas no Rio de Janeiro e no Ceará.

Ao mesmo tempo aristocrata e humanista, unia os anseios liberais e moderadamente socialistas. Em sua principal obra A cultura brasileira retoma a tese de uma unidade nacional baseada em diferenças regionais, culturais e éticas.

1.5-Sérgio Buarque de Hollanda

Inspirando-se na tese de Ribeiro Couto, que identificava o brasileiro como “homem cordial”, Sérgio teve um pesquisa de primeira mão, com intuito de negligenciar a interpretação dos fatos. Foi nessa documentação que ele se baseou para editar em 1936 uma de suas principais obras; Raízes do Brasil, a qual o tornou autoridade internacionalmente reconhecida sobre assuntos do Brasil colônia.

Foi um dos pioneiros a utilizar na análise histórica brasileira o método tipológico de Marx Weber.

Sua obra Visão do paraíso (1959) ele consegue pela primeira vez intervir na visão estereotipada que os europeus tinham do Brasil.

1.6-Fundação da Escola Livre de Sociologia e Política e da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras

Como já abordamos a sociologia como atividade autônoma voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, só vem aparecer no Brasil na década de 30 com a fundação da Escola Livre de Sociologia e política, que sofria forte influencia norte-americana, e da Universidade de São Paulo, com a Faculdade de filosofia, Ciências e Letras que dedicada a estudos orientados pela sociologia européia, em destaque a francesa.

Ambas tiveram lecionando em seus âmbitos acadêmicos, professores vindos do exterior para a formação profissional de vários cientistas sociais. Na USP estiveram no corpo docente a chamada “missão francesa” Lévi-Strauss, Georges Gurvitch, Roger Bastide, Paul Arbousse-Bastide, Fernand Braudel, entre outros. Já para Escola Livre de Sociologia e Política vieram Donald Pierson e Radcliffe-Brown, trazendo toda metodologia sociológica norte americana.

Foi de imensa importância a vinda desses intelectuais ao Brasil, que gerou um grupo de sociólogos que passaram a desenvolver todo conhecimento adquirido em pesquisas já no fim da década de 40, entre eles Maria Isaura Pereira de Queiroz, Ruy Galvão de Andrada Coelho, Florestan Fernandes, Antonio de Mello e Souza, Gilda de Mello e Souza, entre outros.

1.7-Década de 40

Esse foi um dos momentos mais críticos da historia da humanidade, pois acontecia a Segunda Grande Guerra, que consolidou os EUA e a URSS como duas potencias mundiais, tornando o mundo de certa forma bipolar.

Nessa época o Brasil adquiria uma consciência critica de sua realidade, complexidade e sua particularidade buscavam-se um nacionalismo. Integração e mudanças eram temas recorrentes na sociologia do pós-guerra.

Não só o Brasil, mas diversos países latino-americanos receberam “cronistas viajantes”, assim descritos por Octavio Ianni, que nada mais eram do que intelectuais estrangeiros, que fugindo da guerra na Europa, procuravam estruturas sociais diferentes, sociedades que por sua diversidade, poderiam realizar uma linha de raciocínio diferente daquela já conhecida.

Emílio Willems tem uma grande importância nessa época, com sua obra Assimilação e populações marginais no Brasil; um estudo sociológico sobre a contribuição dos imigrantes germânicos e seus descendentes na historia brasileira. Mas este interesse não se resumiu somente Willems, havia também muitos jovens sociólogos interessados em avaliar a mobilidade social de diferentes grupos étnicos, negros, brancos, migrantes, imigrantes de diferentes nacionalidades, alemães, libaneses, japoneses, italianos. Luis Aguiar Costa Pinto faz um estudo entre as relações entre brancos e negros no Rio de Janeiro, já Thales de Azevedo pesquisava a ascensão social de grupos negros em Salvador.

Willems também teve outra importância na sociologia brasileira, junto com Romano Barreto fundaram a revista Sociologia, que exerceu um papel importantíssimo na divulgação da Sociologia alemã, já que Willems traduzia os artigos dos sociólogos alemães para a Revista, dedicando-se especialmente a obra de seu professor, Richard Thurnwald.


2-SOCIOLOGIA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 50

A segunda guerra mundial trouxe profundas desestruturações na sociologia mundial. Diversos intelectuais europeus migram para America buscando novos ares para produzirem suas obras. Esses “cronistas viajantes” efervesceram o cenário sociológico, pois acharam aqui um panorama totalmente diferente da realidade onde eles viviam.

Esse período foi de grande importância para o desenvolvimento das ciências da sociedade, pois temas sócio-econômicos eram explorados por pensadores que tem repercussão ate hoje, são eles: Florestan Fernandes e Celso Furtado.

2.1-Florestan Fernandes

Florestan Fernandes estudou na USP onde teve grande influencia de Roger Bastide, o qual desenvolveu com parceria de Florestan um estudo sobre negros e a questão racial no Brasil, que originou umas de suas mais prestigiadas obras: A integração do negro na sociedade de classes.

Florestan pregava a “sociologia militante”, que visava unir a teoria com a prática, logo teve uma grande influencia de Marx. Essa busca em conciliar a teoria e a ação prática foi uma grande marca em sua vida.

Entendia ele que a sociedade devia ser estudada por fundamentos de sua organização e suas ocorrências históricas, os dilemas assim por ressaltado. Esse era motivo de sua concepção de analise, que por muitos foi definida como “histórico-cultural”. Na visão florestaniana a sociedade brasileira, por ter uma formação histórica peculiar exigisse uma abordagem com traços nítidos e definidos no estudo das relações sociais.

Desenvolveu diversas obras dentre elas podemos destacar: A integração do negro na sociedade de classes; A revolução burguesa no Brasil; Fundamentos empíricos da explicação sociológica; e A sociologia numa era de revolução social.

2.2-Celso Furtado

Um dos grandes nomes do pensamento econômico, não só do Brasil, mas como em toda a America Latina, sem duvida foi Celso Furtado.

Desenvolveu diversos trabalhos na área econômica, principalmente em parceria com a CEPAL (Comissão Econômica para a America Latina), criando assim a escola “cepaliana”. E considerado o pai da economia política brasileira.

Antes de Furtado, o pensamento econômico brasileiro era formado por esquemas interpretativos, como o estabelecimento dos preços e a lei da oferta e procura, as quais defendiam o interesse das classes dominantes.

Porem Furtado vem desmistificar toda essa ideologia, propondo uma interpretação histórica da realidade econômica. Defendia que o subdesenvolvimento não correspondia a uma etapa histórica, mais sim de formação econômica influenciada com o capitalismo internacional.

Analisava situações de países onde havia um notável desenvolvimento industrial e o estágio agrário não tina sido superado, como o caso da maioria dos países latino-americano.

Durante o governo de Goulart, Celso Furtado exerceu celebre trabalho como diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento (atual BNDES) e da SUDENE, este no governo JK. Nessa época Furtado era visto como o principal defensor dos interesses do Brasil perante ao capitalismo internacional.

Suas principais obras são: Desenvolvimento e subdesenvolvimento, livro que se amplia em volume posterior, Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico; Um projeto para o Brasil; A pré-revolução brasileira; O Mito do Desenvolvimento Econômico, que ele levanta duas questões a primeira delas diz respeito aos impactos do processo econômico no meio físico, na natureza – um tema completamente alheio ao núcleo do pensamento tradicional na economia- e a segunda se refere à constatação do caráter de mito moderno do desenvolvimento econômico. Porem seu clássico e Formação Econômica do Brasil, obra esta que faz um estudo amplo e inédito da realidade histórica econômica do Brasil, do tempo da colonização portuguesa aos dias atuais, e claros em relação à época em que ela foi escrita.



3-DITADIRA MILITAR

Na década de 60 a sociologia se preocupou com o processo de industrialização do país, nas questões de reforma agrária e movimentos sociais na cidade e no campo e a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se voltou para os problemas sócio políticos e econômicos originados pela tensão de se viver em um pais cujo a forma de poder é o regime militar.

Surgiu nessa época também a Teoria da libertação, onde, onde a igreja passou a radicalizar com seus pensamentos. Nessa época, no Brasil, em que os militantes católicos se aproximaram dos movimentos no campo, surge a Comissão Pastoral da Terra, entidade que está na origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Essa mudança delinear-se já na metade da década de 1950, configurando-se plenamente de 1960 em diante.

A segunda questão diz respeito à derrogação do estatuto da estabilidade, que até o ano de 1966 regeu a relação social de contrato de compra e venda da força de trabalho e foi substituído pela sistemática do fundo de garantia por tempo de serviço. A consideração do caráter despótico do poder imediato do capital sobre o trabalho levou a problematizar duas tomadas de posições na produção de conhecimento existente, particularmente na área de Sociologia Industrial e do Trabalho. A primeira é a consideração de relações de trabalho de dominação/subordinação de cunho patrimonialista na indústria brasileira. A segunda é sobre o caráter integração/ ajustamento/adaptação do trabalhador na empresa industrial presente naquela consideração.

Na década de 60, os estudos sobre a formação do moderno operariado fabril no Brasil e América Latina, centravam-se em alguns binômios representativos: industrialização/urbanização, moderno/tradicional, migração rural/urbana; mobilidade social/acesso aos bens materiais e simbólicos da sociedade moderna, o meio urbano-industrial/baixa organização sindical dos trabalhadores.

A classe operária foi revisitada, perdendo determinações e teleologias, recuperando-se experiências, cultura e cotidianidade que permitem discuti-la em sua multiplicidade, fora dos limites de sua representatividade externo-organizativa e também do chamado “chão de fábrica”, das tecnologias, dos processos. As relações sociais no mundo do trabalho passam a ser analisadas imbricadas com o mundo da vida onde fatores como família e redes de sociabilidade informais, demonstram possuir um peso antes desconsiderado.

A classe com o sujeito se multiface ta nos indivíduos que a compõem: homens, mulheres, crianças, jovens, velhos, com seus projetos e perspectivas. A análise dessas práticas permite compreender os sentidos atribuídos pelos trabalhadores às suas condições de existência e à construção de identidades sociais.

Azevedo (1951), enfocando esta fase de introdução do ensino da Sociologia em escolas do País (1928-1935), argumenta que a origem da consolidação da Sociologia na mesma deve ser procurada, não em uma única causa determinante, senão em múltiplas causas que estão estreitamente ligadas, sendo possível distingui-las unicamente para fins analíticos. A multiplicidade de fatores decorrentes dos contatos, conflitos e acomodações de povos e culturas diversas; o contraste entre as sociedades em mudança e as culturas de folk remanescentes em toda a vasta extensão territorial; a variedade de paisagens culturais e a contemporaneidade ou justaposição nas realidades concretas, de séculos ou de “camadas históricas”, deveriam certamente sacudir a atenção e despertar o interesse pelo estudo científico dessas realidades sociais vivas e atuais.

3.1-O período da Sociologia Científica

O início do período da Sociologia Contemporânea corresponde à fase de emergência da Sociologia Científica, que buscava, sob a égide do paradigma estrutural-funcionalista, a consecução de um padrão de institucionalização e prática do ensino e da pesquisa em sociologia, similar ao dos centros sociológicos dos países centrais. A concepção de desenvolvimento desta abordagem teve sua expressão na Teoria da Modernização e em sua análise do processo de transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna. Os anos 50 foram marcados também pelo surgimento da proposta de uma “Sociologia Autêntica”, nacionalista, que buscava contribuir para o processo de libertação nacional e que tem na obra de Guerreiro Ramos (1957 e 1965) sua referência principal. Teoricamente, a controvérsia entre Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes dominou a cena da comunidade sociológica brasileira durante esse período, tendo por fulcro central a questão da particularidade e/ou universalidade do conhecimento social produzindo no Brasil A Teoria da Modernização concebe o processo de desenvolvimento como uma transição de uma sociedade rural tradicional para uma sociedade industrial moderna (Germani, 1969).

A “Sociologia Científica” caracterizada pela “adoção dos princípios básicos do conhecimento científico em geral, embora tenha suas próprias especificidades”, assim como pelo “desenvolvimento de procedimentos de pesquisa extremamente refinados e muito mais poderosos do que os previamente utilizados”. As conseqüências disso são uma “tecnificação crescente da Sociologia, dada à estandardização dos procedimentos de pesquisa, o uso generalizado de instrumentos selecionados de pesquisa, a ‘rotinização ecoletivização das atividades, a necessidade crescente de recursos financeiros, espaços físicos e equipamentos, e de pessoal técnico e administrativo” (Germani, 1964).

- O Período de crise e diversificação da Sociologia Brasileira, em fins dos anos 50 e início dos anos 60, foi resultado de uma crítica marxista e implicou uma crescente diferenciação paradigmática que foi potencializada, já no decorrer do período de crise e diversificação da Sociologia brasileira, pelos eventos político-culturais dos períodos 1964/1968 e 1969/1974. Essa crítica marxista teve nos países latino-americanos, os quais, ao não serem apreendidos, levaram a uma série de desastres político-militares como, no Brasil, a derrota da guerrilha urbana e a morte dos líderes guerrilheiros Marighella e Lamarca, e a derrota da guerrilha do Araguaia; O impacto negativo da instauração do regime autoritário sobre a evolução sociológica brasileira está relacionado diretamente com o golpe de 64 e com o “golpe dentro do golpe” de 1968 que tem no AI-5 seu marco principal. O fechamento do ISEB, em 1964, os IPM e as cassações pareciam indicar que as ciências sociais brasileiras estavam entrando em um período recessivo. Porém houve uma expansão, que teve seu centro de gravitação nos cursos de pós-graduação que foram criados e consolidados como centros de ensino e pesquisa, particularmente após a Reforma Universitária de1969, e teve por contraponto a criação e as atividades de centros privados de pesquisa tais como o CEBRAP, o CEDEC, e o IDESP (Sorj e Mitre, 1985).

Sorj e Mitre indicam que: Nos primeiros anos do regime militar, no período que se estende entre 1964 e 1969, os prognósticos pessimistas pareciam confirmar-se. As cassações de professores universitários logo depois do golpe, e posteriormente, com impacto ainda maior, aquelas que se seguiram ao AI-5, levou a pensar que as ciências sociais entrariam em recesso no Brasil. Neste mesmo período ‚ foi aplicada a reforma universitária, que com assessoria americana encontra a vontade da comunidade acadêmica. Embora importantes ambos os fenômenos não chegaram a abalar fundamentalmente o futuro desenvolvimento das ciências sociais ainda que certos centros universitários como a USP e UFRJ possam ter sofrido individualmente um impacto maior. Isto, em primeiro lugar, porque um número importante de cientistas sociais cassados permaneceu no país, inclusive auto-organizados em centros como o CEBRAP, e em segundo lugar, nenhuma instituição chegou a ser fechada ou mesmo esvaziada, permanecendo nos seus

A Reforma Universitária de 1969, introduzindo o sistema de parta mental e as novas regras e requerimentos para a carreira universitária (incluída a formação em nível de pós-graduação), assim como o novo formato dos programas de pós-graduação e das atividades de pós-graduação.



Principais Autores:

3.2-Goffman

Os trabalhos de Goffman começam a ser mais conhecidos no Brasil em meados dos anos 60. As ciências sociais no país tinham, na época, como referências principais o marxismo e o estruturalismo, com suas diferentes versões e facções. O nacionalismo antiimperialista e o próprio regime militar, com as radicalizações a ele associadas, não constituíam, propriamente, um estímulo à divulgação de autores norte-americanos, principalmente quando não ligados de modo nítido a uma preocupação de análise mais ampla de processos socio-históricos. Mas nos anos que se seguiram ao golpe de 1964, e mesmo no período imediato que o precedeu, houve uma forte tendência de rejeição à produção norte-americana, classificada de empirista e pouco sofisticada.

No entanto, já mais perto do final da década de 60, o crescente interesse por uma análise e política do cotidiano permite uma abertura maior em relação a estudos classificados, às vezes de forma um tanto pejorativa, como “micro”.

É dentro desse quadro que, sobretudo, antropólogos e profissionais da área passam a se interessar por Goffman. Embora com certo atraso, começam a ser publicados alguns de seus textos. A Representação do Eu na Vida Cotidiana (1959, 1975), Manicômios, Prisões e Conventos (1961, 1974) e Estigma (1963, 1975) são lançados por editoras diferentes com boa receptividade. A Representação do Eu e Estigma foram publicados em coleções dirigidas por antropólogos, Roberto Da Matta e Castro Faria.

3.3-Luiz Pereira

Nascido em 1933 e falecido em 1985, o autor teve formação acadêmica, desde a graduação até o Doutorado, na Universidade de São Paulo. () No período entre 1955 e 1958, concluiu o Bacharelado e a Licenciatura em Pedagogia. Os títulos de Mestre em Sociologia e Doutor em Ciências Sociais foram obtidos no início da década de 60, ambos sob a orientação de Florestan Fernandes.

A obra de Luiz Pereira pode ser organizada a partir de sua recorrência a três temas:

Dimensão educacional dos processos sociais.

Processo de desenvolvimento.

Diversas faces do modo de produção capitalista no Brasil.

O primeiro tema corresponde ao momento inicial de sua produção acadêmica, compreendendo o período entre 1960 e 1967. São dessa época os seus primeiros estudos em Sociologia da Educação como matéria de estudos acadêmicos e objeto de investigação.

O processo de desenvolvimento social como objeto de suas investigações sociológicas correspondeu ao segundo período de sua obra, iniciado no final dos anos 60.



4-REDEMOCRATIZAÇÃO

Com a abertura política nos anos 80 o país busca retomar sua identidade social. Durante o regime militar, muitos intelectuais foram aposentados e impedidos de lecionar outros foram exilados ou se exilaram por espontânea vontade, passando a publicar suas obras no exterior.

Tendo o fim do bipartidarismo, agora sendo pluripartidal, um grande número de celebres pensadores decidem deixar a cátedra para ingressar na política.

Darcy Ribeiro, por exemplo; filia-se ao PTB (Partido Democrático Trabalhista), este de Getulio Vargas que reivindicava o nacionalismo e o populismo. Outros nomes da sociologia ajudaram a fundar o PSDB (Partido da Social-Democrata Brasileiro) como Fernando Henrique Cardoso, este assumindo a Presidência da Republica em 1994 sendo o primeiro sociólogo na historia assumir tal cargo, falaremos dele mais a frente.

Entretanto o partido que mais se beneficiou com essa nova atuação dos cientistas sociais foi o PT (Partido dos Trabalhadores). Nomes como Florestan Fernandes, Antonio Candido e Mello e Souza e Francisco Weffort foram alguns que engajaram na luta política do PT.

Esse engrossamento de intelectuais foi de imensa importância para o período histórico que o país vivia, tratava-se de uma integração das teorias sociais e praticas políticas, e o resultado dessa parceria viria em 1988 quando foi promulgada a nova Constituição do Brasil, a sétima em vigor porem a única com o emblema de “cidadã”, como dos descrita por Ulysses Guimarães.

Percebe-se também nessa época uma grande diversificação das ciências sociais em nosso país, e de se ressaltar que o Brasil sempre foi um campo fértil para ciências sociais, devido a toda sua historia, mas no período em que referimos à multiplicidade dos campos de estudo, em especial na sociologia. Surgem diversos estudos e análises sobre a questão feminina, do menor, das favelas, das artes, da violência urbana e rural, entre outras.

A sociologia se torna cada vez mais interdisciplinar e plural no Brasil. Os sociólogos buscam redefinir seus conceitos de interdependência em um mundo cada vez mais globalizado.

Não poderíamos deixa de falar com minuciosidade de Fernando Henrique Cardoso. Nasceu no Rio de Janeiro RJ em 18-IV-1931, já em 1949 começou a estudar sociologia na USP onde lecionaria quatro anos mais tarde. Com o golpe de 64 se exilou no Chile e argentina. Trabalhou como professor em diversas instituições pelo mundo como a Universidade de Nantere e a Faculdade de Ciências Socias de Santiago, no Chile. Foi também nomeado diretor-adjunto do Instituto Latino-Americano de Planificação Econômica Social.

Em seus estudos sociológicos, pesquisou a evolução social da America Latina e analisou a dependência dos países subdesenvolvidos no sistema internacional de produção e comercio, este pensamento e descrito com clareza em suas obras: Dependência e Desenvolvimento na America Latina (1964) esta escrita em parceria de Enzo Faleto, e Política e Desenvolvimento em Sociedades Dependentes: ideologias do empresariado industrial argentino e brasileiro. Nesta fase FHC, como e conhecido por seu acrônimo, se destina a sociologia do desenvolvimento, porém ele também aprofundou se pela sociologia politica, pois teve um grande destaque na politica nacional, como ja foi citado, sendo senador-suplente de Franco Montoro em 78 e assumindoa cadeira quando Montoro assumio o governo de São Paulo, elegendo do se novamente ao senado, agora pelo PSDB, partido esse que ajudou a fundar e que é Presidente de Honra. Em 1994 foi eleito Presidente de Republica reelegendo-se em 98.



5-SOCIOLOGIA NOS DIAS ATUAIS

Nos dias atuais a sociologia busca cada vez mais sua posição perante asa ciências sociais, buscando novos rumos e uma metodologia que se encaixe nos novos temas que aparecem na mudança de século.

Um marco que se acontece e a firmação da sociologia na grade curricular em escolas do ensino médio, uma grande conquista, pois há pouco tempo sociólogos eram perseguidos pela ditadura militar, também e um grande salto se levarmos em conta que a sociedade brasileira esta “engatinhando” em busca de uma real democracia.

E de se destacar a obra de José Pastore e Nelson do Valle Silva; Mobilidade Social no Brasil. Nesta obra os autores vêm trazer os resultados da mobilidade social no Brasil, fazendo uma comparação entre dados adquiridos nas décadas de 1970 e final dos anos 90. Este trabalho apresenta ascendência de uma nova classe media que vem se formando nas bases, no Brasil é um país onde muitos sobem pouco, e poucos sobem muito, o que gera um inchaço na base da pirâmide social.

Nesta mesma obra, o prefacio fica a parte de Fernando Henrique Cardoso, que diz:

“[...] a sociedade brasileira e dotada de imensa mobilidade social. Essa mobilidade se deixa captar por vários índices e alguns deles merecem especial menção: entre 1973 e 1996, por exemplo, os dados mostram que a maioria dos brasileiros melhorou de vida, ou seja, teve uma mobilidade ascendente; nesse período o extrato social de renda superior cresceu 40%, passando de 3,5% para 4,9% do total. Ao mesmo tempo, houve um estreitamento da base da pirâmide social graças à redução em cerca de 25% das camadas pobres de 32% para 24%.[...] A nova classe media talvez seja apenas o aspecto mais visível de um processo que, movido por forças profundas como a reordenação dos espaços econômicos, o deslocamento de populações, e as mudanças nas estruturas produtivas com peso crescente do setor de serviços, vem revolucionando nosso entorno social.”

Em outras palavras, a mobilidade social no Brasil começa a ser determinada por elementos de competição no mercado de trabalho, o que é comum nos países mais desenvolvidos, onde o papel da educação e essencial no contexto mobi-social.

Ayrton Fausto representa atualmente e um grande nome da sociologia nacional, e diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) uma das maiores organizações que visa à construção de sociedades mais justas, através da democratização, pela crescente participação da sociedade, da política, da economia e da cultura. A FLACSO no Brasil teve sua criação em 1981, como projeto, tornando-se Sede Acadêmica em 1989. Ayrton Fausto abrange em seus estudos sociais a mesma finalidade da FLACSO a construção de sociedades mais justas, como o contexto internacional, globalização, integração supranacional e democracia, o panorama da economia e da política internacionais neste fim de século, o desemprego; a crise fiscal e do estado de bem-estar social; as migrações em massa por razões econômicas e/ou de perseguição política; o aumento da criminalidade e da corrupção e outros temas polêmicos da nossa sociedade.

A sociologia do século XXI torna-se cada vez mais interdisciplinar e plural, se diversifica cada vez mais, pois a uma grande multiplicação nos objetos de estudos.



6-CONCLUSÃO

A sociologia e uma ciência muito complexa, e para a realidade brasileira ela tem uma particularidade. Mesmo vindo a aparecer como método sistemático cientifico no Brasil somente na década de 30, o pensamento sociológico sempre existiu, tanto nas idéias abolicionistas como nas republicanas, o losango em nossa bandeira e símbolo do positivismo europeu trazido por estes idealizadores no final do século XIX.

O estudo da particularidade da sociedade brasileira sempre foi meta de estudo dos sociólogos, pois o Brasil e um caso a parte a ser estudado pela sociologia, e este trabalho tem o intuito dessa realidade vivida.



7-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3ª Ed- São Paulo: Moderna, 2007.

FERREIRA, Nelson. Manual de sociologia: dos clássicos à sociedade da informação. 2ª Ed- São Paulo: Atlas, 2003.

PASTORE, José; do VALLE SILVA, Nelson. Mobilidade social no Brasil. 1ª Ed- São Paulo: Makron Books, 2000.

TOMAZI, Nelson Dacio (coord.). Iniciação à sociologia. 2ª Ed- São Paulo: Atual, 2000.

VITA, Álvaro de. Sociologia da sociedade brasileira. 5ª Ed- São Paulo: Ática 1996.

WWW.FLACSO.ORG.BR /acesso em 15/X/2007

WWW.FUNDAJ.GOV.BR/TPD/104.HTML /acesso em 22/XI/2007

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/6527/1/Sociologia-No-Brasil/pagina1.html.