terça-feira, 28 de setembro de 2010

CARREIRA POLÍTICA

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ELEIÇÕES 2010

VOTO CONSCIENTE

O QUE É FILOSOFIA? QUAL A SUA FINALIDADE?


* Antonio J. Moraes
01] Pensando em como trabalhar O que é Filosofia? com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio, recorri ao Curso de Filosofia, editado pelo Jorge Zahar Editor de 2002. Nesta memorável obra, segundo a professora de Filosofia da PUC do Rio de Janeiro, Maura Iglesias, a nossa língua portuguesa admite o uso [correto] de vários sentidos para a palavra “Filosofia”, que inúmeras vezes é responsável por causar confusão entre as pessoas.

02] Segundo a Professora de filosofia, citada anteriormente, fala-se que fulano tem uma ótima “filosofia” de trabalho; que o vovô tem uma “filosofia” de vida maravilhosa; e que o treinador vai implantar uma nova “filosofia” a equipe (REZENDE, 2002).

03] Em todos esses exemplos, para a filósofa Maura Iglésias, a impressão que temos é que “filosofia” tem a ver com uma concepção, forma de como a pessoa vê e perceber aquilo está a sua volta, e, pois com um “saber”, como de trabalho, de vida ou de time de futebol devem ser dirigidos: há um “saber de direção” [ação diretiva] envolvido nessas “filosofias”.

04] Mas fala-se em filosofia hindu, de filosofia chinesa... Muito presente no Mundo Oriental, principalmente no passado. Nesses exemplos a Filosofia é apresentada como que já têm um “sentido mais técnico”, de sistematização [organização] de pensamento especulativo ou de reflexões morais produzidos ao longo do tempo por esses povos citados anteriormente.

05] Podemos encontrar inúmeros de livros nas prateleiras das livrarias com títulos fazendo menção a “filosofia”, com variedades exóticas, segundo a filósofa Maura Iglésias, onde aparecem tratados de ioga, e disciplinas espirituais e ascéticas de monges tibetanos, livros de cunho espírita, esotéricos entre inúmeros outros.

06] Em todos esses casos, mencionados anteriormente, Filosofia esta relacionada com uma “forma de saber”, não que seja um saber qualquer. “Filosofia” tem, mesmo no seu sentido lato [abrangente], uma ligação com um saber que se percebe como mais relevante, relativo a coisas mais fundamentais, embora menos diretamente úteis [no sentido materialista], que um simples saber empírico [experimental], ou que um saber ligado a produções de coisas indispensáveis para a sobrevivência.

07] Mas é preciso estar ciente de que a disciplina acadêmica que se intitula “Filosofia” usa essa palavra num sentido estrito [funilado], que exclui seu âmbito não só a concepção de vida das pessoas [como a do vovô, citado anteriormente], as disciplinas ascéticas dos monges tibetanos, mas também textos alguns textos especulativos das milenares civilizações chinesa, hindu e outras. Mas isso não significa uma depreciação, por parte da Filosofia, a essas milenares culturas, mas que a Filosofia utiliza-se de outros pressupostos.

08] Mas afinal, o que é Filosofia? Segundo a professora e filósofa Maura Iglésias, essa é uma questão de difícil resposta. Todas as atividades do espírito humano, ainda segundo Iglésias, têm um objeto determinado do qual se ocupam: a Astronomia, dos corpos celestes; a Biologia, dos organismos vivos; a Sociologia, dos grupos sociais, a Matemática, dos números, a Psicologia, da psique, a História, do passado da humanidade. Mas e o objeto da Filosofia, qual é?

09] É conveniente começar por dizer que o objeto da Filosofia não é algo particular [somente pertencente a ela] ou algum dado da experiência. Tudo o que a experiência mostra, não somente como dado particular, mas ainda como lei universal, é objeto das diversas ciências. Mas, é bom lembrarmos que a Filosofia não é ciência; é algo de diverso e – assim pretende – de superior.
10] A Filosofia considera todos os objetos da experiência, mas não se limita à experiência ou à soma delas. Segundo nossa filósofa, Maura Iglésias, a Filosofia é muito mais um modo diverso e inconfundível de entrar em contato com a experiência, é algo de maior e mais profundo.

11] Para quem ainda está fora da Filosofia, à coisa pode estar parecendo confusa. Mas a razão da dificuldade é fácil de explicar: talvez seja possível dizer e entender o que é a Física, de fora da Física; dizer e entender o que é Química, de fora da Química. Mas, para dizer e entender o que é Filosofia, é preciso já estar dentro dela. “o que é Física?” não é uma questão física, “o que é Química?” não é questão química, mas o “o que é Filosofia?” já é uma questão filosófica, seja o fato de suas respostas, ou tentativas de respostas, jamais esgotarem a questão, que permanece assim com sua força de questão, a convidar outras abordagens possíveis.

12] Vejamos algumas características da Filosofia apontadas por Aristóteles: * 1) é um saber “de todas as coisas”, um saber universal; num certo sentido, nada está fora do campo da filosofia; * 2) è um saber pelo saber: um saber livre, e não um saber que se constitui para resolver uma dificuldade de ordem prática; * 3) é um saber pelas causas; o que Aristóteles entende por causa não é exatamente o que nós chamamos por esse nome; de qualquer forma, saber pelas causas envolve o exercício da razão, e esta envolve a crítica: o saber filosófico e, pois, um saber crítico.

13] Platão e Aristóteles indicam com precisão a experiência que dá a origem ao pensar filosófico. É aquilo que os gregos chamaram “thauma” (espanto, admiração, perplexidade).

14] A Filosofia começa quando algo desperta nossa admiração, espantando-nos, capta nossa atenção (que é isso?, por que é assim?, como é possível que seja assim?), interroga-nos insistentemente, exige uma explicação.

15] Filosofia é saber pelo saber. Filosofia é “saber de todas as coisas” e é saber crítico. Nem ela própria pode escapar ao seu questionamento e à sua crítica. Ora, numa sociedade em que as explicações estão todas prontas, onde as normas são aceitas sem discussão, a tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras, invasões...

16] Mas lá aonde há questionamento de tudo existe um princípio interno de transformação, e existe a permanente possibilidade da mudança.

17] É por isso que, entre os nossos dez filósofos, um certamente se insurgiria contra seu colega engraçadinho e bradaria indignado: “Alto lá! A Filosofia é o contrário disso, ela é justamente a ciência com a qual não é possível ao mundo permanecer tal e qual!”.

18] E é só entrar na Filosofia para entender que ela também tem razão.

* Antonio José Moraes é graduado em Filosofia pela UCDB – Universidade Católica Dom Bosco; pós-graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNAES – Centro Universitário de Campo Grande, MS; e em Metodologia do Ensino de História pela UNIC – Universidade de Cuiabá; e em Fé e Poítica pela PUC-Rio – Pontificias Universidade Católica do Rio de Janeiro. Escritor membro da ANE/MS – Associação dos Novos Escritores de Mato Grosso do Sul; autor de Idéias: uma reflexão filosófica inicial, publicado pela Sophia Editora e em breve lançará Amor: um convite à reflexão filosófica e Caminho: uma fronteira entre o chamado e a resposta. Atualmente desenvolve o Projeto Filos da Sofia em Instituições Públicas de Ensino, onde tem por objetivo contribuir para a construção paulatina da consciência reflexiva dos escolares. Este texto faz parte da obra Ser-em-Transformação: um passo para além da escuridão, esboço desse projeto.